O projeto do Ministério da Educação e Cultura para a campanha Escola Sem Homofobia teria usado R$ 1,5 milhão do dinheiro público e seria distribuído em 6.000 escolas em todo o país. A campanha contava com filmes e cartilhas que continham cenas de beijos entre homossexuais e uma insinuação de relação sexual entre dois garotos. O “kit gay” provocou discussão entre pais, professores, políticos e religiosos, sendo que muitos deles consideraram a campanha uma apologia à sexualidade precoce.
ASSISTA AOS VÍDEOS DO KIT “ESCOLA SEM HOMOFOBIA.
O material foi encomendado pelo MEC e visa combater a violência contra homossexuais nas escolas públicas do país. “A violência contra esse público é muito grande e a educação é um direito de todos os brasileiros, independentemente de cor, crença religiosa ou orientação sexual. Os estabelecimentos públicos têm que estar preparados para receber essas pessoas e apoiá-las no seu desenvolvimento”, defendeu o ministro Fernando Haddad na manhã desta quinta-feira (19), durante o programa de rádio Bom Dia, Ministro, produzido pela EBC Serviços em parceria com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência.
Já o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) acusa o ministério de “incentivar a homossexualidade”. Ele chegou a mandar imprimir 50 mil panfletos contra contra o plano nacional que defende os direitos dos gays.
O deputado federal eleito pelo PP do Rio está distribuindo o material em residências e escolas do Estado.
Para o professor português António Nóvoa acha que o melhor local para discussão do tema não é a sala de aula. “Trata-se de um diálogo educativo que vai muito além desta”, afirma. “Mas como a comunidade não tem condições ainda de arcar com essa responsabilidade, a solução é deixar a escola assumir parte do trabalho”.
Crianças tomarão conhecimento de bigamia, poligamia, bissexualismo e transsexualismo. Aprenderão a observar seus corpos e os corpos dos outros em sala de aula
Orley José da Silva
Especial para o Jornal Opção
Crianças de escolas públicas e privadas que estudarem com os livros didáticos/2016 do MEC para a primeira fase do Ensino Fundamental serão informadas sobre arranjos familiares de gays e lésbicas, com adoção de filhos. Elas tomarão conhecimento também de bigamia, poligamia, bissexualismo e transsexualismo. Aprenderão a observar melhor os próprios corpos e os corpos dos outros por intermédio de exercícios em sala de aula, orientados pelo livro didático. Os livros também lhes dirão das doenças sexualmente transmissíveis e dos mais diferentes métodos anticonceptivos. A ministração desses conteúdos se inicia já no 1º ano, com alunos de 6 anos de idade e, numa gradação de complexidade, estende-se ao 5º ano, quando os alunos têm 10 anos.
Para a produção deste artigo, foram verificados livros de apenas onze editoras, das dezenove que tiveram suas obras recomendadas pelo Programa Nacional do Livro Didático/2016, do Ministério da Educação. Constatou-se que as onze editoras observadas trazem em alguns de seus livros o tema da Orientação Sexual e Familiar, de acordo com a Ideologia de Gênero.
A estratégia pedagógica para o ensino desse conteúdo durante essa fase de estudos obedece ao princípio da repetição exaustiva do conteúdo. Durante o mesmo ano letivo o aluno ouvirá, lerá e fará exercícios seguidas vezes sobre o referido tema com professores e disciplinas diferentes: Geografia, Ciências, História, Ciências Humanas e da Natureza, etc. O discurso único na diversidade de disciplinas e professores confere maior credibilidade ao conteúdo. Além das aulas expositivas, os próprios livros encaminharão os alunos para atividades complementares sob a orientação dos professores como: leitura de livros, filmes, músicas, debates e produção de cartazes.
Trata-se da aplicação do princípio segundo o qual uma história, mesmo que fantasiosa, quando repetida várias vezes, adquire valor de verdade. Neste caso, o esforço do MEC é para atender os objetivos de desconstrução da heteronormatividade e do conceito de família tradicional previstos no Plano Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH3), assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 21 de dezembro de 2009.
O artigo 226 da Constituição é ignorado completamente pelo material didático produzido pelo próprio governo, para referir-se à formação de família. Enquanto a Constituição elege como base da sociedade a família que é formada pelo casamento entre “um homem e uma mulher”, os livros ensinam às crianças que não há um modelo padrão de família e que o casamento é a união de “duas pessoas”, independente do sexo.
Mas o MEC também desconsidera a vontade majoritária do povo expressa por meio de seus representantes nos três níveis parlamentares, quando das votações dos Planos Nacional, Estaduais e Municipais de Educação. Nessas ocasiões, a inserção da Ideologia de Gênero nos planos de educação foi severamente combatida e rejeitada pela maioria dos parlamentares. Como se não bastasse, esse tema para o ensino da moral sexual das crianças na escola é amplamente reprovado pela maioria esmagadora da população, como demonstram pesquisas universais de opinião.
Levando-se em consideração que os conteúdos em referência sejam puramente ideológicos, visto que eles carecem de experimentação e consenso científico, qual a justificativa e o respaldo legal do governo para jogar por terra a vontade do Legislativo e da maioria do povo para adotar uma ideologia como política pública para todos? De acordo com documentos do MEC esta política de orientação sexual e familiar para as crianças constitui-se em tema transversal da educação e visa criar no futuro uma sociedade idealizada que aceite com normalidade as diferenças de gênero e de arranjos familiares.
Ao afastar compulsoriamente a família dessa responsabilidade educadora para assumir o seu lugar, o governo alinha-se ao pensamento fundamente da Ideologia de Gênero para quem a família não está devidamente preparada para a orientação sexual e familiar dos filhos. Isto porque não acompanha as mudanças sociais, é portadora de tabus e preconceitos arraigados em função da influência que recebe da tradição familiar e da religião.
A educação das crianças na escola, não somente pública mas também privada e confessional, era a última barreira a ser vencida pela revolução sexual e de costumes que o governo apadrinha. Pelo visto ela foi vencida agora com a chegada desses livros, a menos que haja uma reação incisiva e qualificada da sociedade civil, declaradamente contrária à esse projeto, de proteção à integridade física, moral, emocional e psicológica das crianças em idade escolar.
Orley José da Silva é professor em Goiânia, mestre em Letras e Linguística (UFG) e mestrando em Estudos Teológicos (SPRBC).
FONTE: jornalopcao
Publicado em 12 de set de 2016